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Sem apoio da Prefeitura e com rede elétrica em situação precária, escola faz vaquinha entre pais para bancar reforma

Unidade quer arrecadar R$ 15 mil para viabilizar troca da fiação e permitir uso de ar-condicionado para as crianças

João Paulo Ferreira
Por: João Paulo Ferreira
04/07/2025 às 16h52 Atualizada em 04/07/2025 às 17h41
Sem apoio da Prefeitura e com rede elétrica em situação precária, escola faz vaquinha entre pais para bancar reforma

A Escola Municipal Elpídio Reis, em Campo Grande, passou a pedir doações aos pais de alunos para bancar a troca da rede elétrica da unidade, que está em situação precária e impede o funcionamento dos aparelhos de ar-condicionado nas salas de aula. O comunicado, enviado pela direção no dia 2 de julho, informa que a obra está orçada em R$ 99.695,00 e que a escola dispõe de cerca de R$ 85 mil, faltando R$ 15 mil para a execução.

A orientação é para que os pais colaborem com R$ 10 por família, via PIX, em caráter voluntário. A justificativa é de que a atual rede não suporta a carga dos equipamentos, que já estão instalados, mas seguem sem uso. Apenas a coordenação e a sala dos professores contam hoje com climatização.

O pedido gerou críticas entre responsáveis de alunos. Em conversa com O Sul-mato-grossense, uma mãe, que pediu anonimato, demonstrou indignação:

“A Escola Elpídio Reis é ótima, nunca tive problema. Mas a Prefeitura tem que ser responsável por tudo: prédio, salário, manutenção. Essa verba já vem pra isso.”

Segundo ela, o valor pode parecer pequeno, mas o princípio é grave:

“Hoje são R$ 10. Mas não é só o meu dinheiro. São quantas crianças ali? Isso vira um sistema. E a gente já paga caro: imposto municipal, estadual, federal. E nada volta.”

A mãe afirma que explicou à filha por que não aceitaria pagar pela obra:

“Expliquei pra ela que é uma injustiça. Colocam nossos filhos na escola pública porque não temos condição de pagar particular, e ainda querem que a gente banque a estrutura? A escola é pública, mas não é de graça. A gente já paga, e caro.”

Ela também questiona a condução da gestão municipal:

“Se agora, logo no começo do mandato da prefeita, já está assim, o que esperar dos próximos anos? Se não estão sabendo administrar agora, vai virar o quê depois?”

“A gente vê nas reportagens, vai no posto de saúde, tudo escasso, tudo faltando. E o dinheiro? Tá indo pra onde? Tem que ter fiscalização. Campo Grande não tá andando.”

Por mais de R$ 600 mil, Prefeitura diz ter entregue a revitalização de três escolas em 2024. Entre elas, a Escola Elpídio Reis, que agora faz vaquinha para garantir a troca da rede elétrica que está em situação precária.

No dia 24 de junho, a Prefeitura de Campo Grande divulgou que a unidade foi beneficiada com reforma no prédio, acessibilidade, nova porta na secretaria e marquise na entrada, dentro do programa Juntos Pela Escola. De acordo com a própria Prefeitura, a revitalização contemplou a acessibilidade, reforma dos dois banheiros da quadra de esportes, mudança da porta da secretaria para mais comodidade aos servidores e comunidade escolar, e instalação de uma marquise. Mas deixou de fora a rede elétrica da unidade, que agora precisa ser substituída com ajuda dos pais.

Na ocasião, a prefeita Adriane Lopes afirmou que as obras “proporcionam melhoria na qualidade do ensino”, enquanto a diretora Dilma Wider classificou a ação como “revolucionária”. Apesar da entrega, nenhuma das intervenções garantiu a climatização das salas de aula — e menos de duas semanas depois, a escola passou a pedir ajuda financeira às famílias.

Procurado pela reportagem, o secretário municipal de Educação, Lucas Bitencourt, afirmou que a arrecadação não era de conhecimento da Semed e garantiu que esse tipo de prática “não é a orientação da rede”. Ele disse que a Secretaria já está realizando as adequações de rede elétrica nas escolas e que vai orientar a direção da Elpídio Reis sobre o caso.

“A Semed fará as adequações das redes necessárias para instalação. Já estamos fazendo. E vamos orientar essa escola. Não é do conhecimento [da secretaria] e não é a prática.”, afirmou Bitencourt.

A diretora da escola, Dilma Aparecida Wider Rezende, foi procurada, mas informou estar em reunião de conselho de classe e não respondeu às perguntas até a publicação.

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